segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Por que a construção da trincheira é uma má ideia

elaborado em conjunto com o engenheiro Mauri Panitz

Esta postagem visa explicar por que nos colocamos contra a construção de uma trincheira na rua Anita Garibaldi. Esperamos que ela sirva também para esclarecer que o nosso objetivo final não é a preservação das árvores ou a substituição dos carros pelas bicicletas, como muita gente pensa. Há muita coisa errada no projeto da obra, não importa de qual ângulo se encare a questão: urbanístico, de mobilidade, ambiental, econômico, político.

Uma rápida explicação sobre o trânsito de Porto Alegre:

O sistema viário de Porto Alegre é composto de ruas radiais que convergem em direção ao Centro. Isso quer dizer que as grandes vias como a Av. Farrapos, a Av. Osvaldo Aranha, a Av. João Pessoa e a Av. Independência cortam a cidade formando um desenho radial, parecido com um leque:



A 3ª Perimetral foi criada com a intenção de desconcentrar o trânsito de Porto Alegre. Ela foi desenhada de forma a  interligar as vias radiais da Cidade e permitir acesso facilitado a bairros distantes.

Além de descentralizar e agilizar o trânsito, a 3ª Perimetral visa criar polos de desenvolvimento urbano nos cruzamentos entre a perimetral e as demais vias, gerando pequenos centros comerciais em cada bairro e deixando seus moradores independentes do Centro Histórico para ter acesso ao comércio.



A Rua Anita Garibaldi é uma via coletora - portanto, não é uma grande via radial de acesso ao Centro. Ela começa na rua Cel. Bordini e termina num beco, nos fundos do Country Club. Além disso, a Anita não tem a capacidade de escoamento necessária para aguentar um volume excessivo de tráfego, como vem recebendo ultimamente. Esta é uma das razões que explica o porquê da construção de uma passagem de nível não ser adequada nesta localidade.

A rua Anita Garibaldi é paralela a duas avenidas: a Plínio Brasil Milano e a Dr. Nilo Peçanha. Ambas possuem capacidade suficiente para intervenções como passagens de nível. A Nilo Peçanha já possui um viaduto; a Plínio em breve ganhará uma passagem de nível inferior, para cruzamento em níveis diversos. Com estas duas interconexões, a obra na Anita torna-se desnecessária: basta que haja vias que interconectem a Nilo e a Plínio.

Mas por que não uma obra também na Anita?

A trincheira, se construída na Rua Anita Garibaldi, irá transferir o engarrafamento já existente para a av. Eng. Alfredo Correa Daudt, duas quadras abaixo. Os veículos continuarão engarrafando, agora com a possibilidade de ficarem presos dentro de um túnel, o que é ainda mais desagradável. 


Por que ocorrerá o engarrafamento na av. Correa Daudt?

Segundo a EPTC, 38% dos carros que passam pelo cruzamento da Rua Anita Garibaldi com a 3ª Perimetral dobram à esquerda, em direção ao Aeroporto Salgado Filho. Com a trincheira, não haverá mais essa opção: os carros deverão usar a Correa Daudt, mais congestionada ainda, para converter ao aeroporto. O problema não será eliminado, apenas transferido para duas quadras abaixo.

O que implica a perda da conversão à esquerda na av. Carlos Gomes?

A Rua Anita Garibaldi é hoje a única via de acesso ao aeroporto para os bairros Bela Vista, Mont' Serrat, Moinhos de Vento e Boa Vista. Caso não se possa converter à esquerda, todo esse fluxo irá para a Rua Plínio Brasil Milano, que hoje já não permite a conversão à esquerda.

Junto com a obra, não haverá a duplicação de pista da Anita Garibaldi?

Não. A trincheira nada tem a ver com o projeto de duplicação de pista e de prolongamento da avenida. Pelo contrário: após construída, a trincheira deverá ser demolida para que se possa fazer a duplicação de pista, pois ela está fora do eixo da futura obra. Isso mesmo: poucos anos após ser construída, a trincheira será demolida para dar lugar a outra obra.  

O problema é apenas o trânsito?

Fora as complicações de ficar preso no subsolo durante o engarrafamento, a trincheira traz outros problemas: sondagens preliminares da construtora Sultepa revelaram que o solo do terreno é rochoso e não arenoso, como se pensava. Cavar um túnel num solo rochoso implica o uso de explosivos, algo perigoso em zonas residenciais. Tal constatação corrobora a tese de que não foram realizados os estudos prévios de impacto ambiental, de impacto no tráfego e geológicos, obrigatórios a qualquer projeto de obra pública.

E as árvores?

Dezenas de árvores serão retiradas durante o processo, mas grande parte delas está com a madeira podre. Apesar de lamentável, a perda das árvores não é o principal problema da obra, como a imprensa insiste em dizer.

Qual o custo da obra?

Inicialmente era de R$ 12 milhões, mas a evidência de solo rochoso fará esta cifra aumentar. A nova estimativa de valor ainda não foi divulgada pela prefeitura.

Se a obra não trará benefícios a Porto Alegre, por que fazê-la?

As prefeituras das cidades-sede da Copa do Mundo têm direito a verbas federais para a realização de obras de mobilidade urbana relacionadas à Copa. As prefeituras tem um prazo para apresentar os projetos que receberão a verba, senão correm o risco de perdê-la. O projeto da trincheira na Rua Anita Garibaldi é antigo e já estava pronto à época da requisição. Para ter acesso à verba, a prefeitura optou por fazer a trincheira ao invés de elaborar um novo projeto.

Ok, a obra pode até não sair, mas é preciso dar um jeito no trânsito da região. Qual a solução?

A futura passagem de nível na Av. Plínio Brasil Milano desafogará o trânsito na Rua Anita Garibaldi, pois os motoristas terão outra opção de caminho a seguir. Diferentemente do caso da Anita, as obras na Plínio afetarão somente um empreendimento comercial: o posto de gasolina Ipiranga.

10 comentários:

  1. Então o problema é só a Anita, se o tráfego for para Higienópolis ou para Petrópolis está tudo bem. Só não pode haver deterioração no Mont Serrat e na Boa Vista é isto?

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  2. Não, amigo, pense bem, a trincheira na anita não deixará que 38% do fluxo faça sua conversão (à esquerda) se for feito a obra na Plínio, não mudará em nada as conversões possíveis na via, visto que já não se pode dobrar em nenhuma das sinaleiras à esquerda, podendo haver um viaduto naquela região. Não há o pensamento desta deterioração e sim de uma obra que seja ÚTIL! Espero que tenhas entendido o porque de fazer a obra na via paralela.

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  3. Entendo, então na Plínio como já não pode dobrar à esquerda então não tem problema fazer viaduto.
    Sobre a deterioração urbana não importa.
    E a trincheira da Anita só não pode ser feita pois o necessário é dobrar à esquerda, o que é útil.
    Se fosse feita uma alça à esquerda então ficaria perfeito é isto?
    O movimento então deveria ser "Movimento pela alça à esquerda" e não movimento contra a trincheira...

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  4. Se o problema é só a questão da conversão à esquerda e não importam as árvores nem o urbanismo a questão é fácil de resolver: basta asfaltar a alameda Raimundo Correa e tirar os plátanos fazendo a alça de conversão com retorno pela Rua Furriel...

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  5. Ta, e ali na Furriel vai atravessar a Carlos Gomes, logo uma sinaleira ali que terá um tempo elevado, visto que a distância para atravessar é grande. não vai engarrafar mais ainda? o viaduto na nilo vai ficar parado para esta sinaleira então, é isso que tu propõe que seja feito? é preciso verificar o impacto destas alterações, não basta jogar para um lado ou para o outro!

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    1. Basta deixar uma faixa exclusiva para a conversão, sem sinaleira..
      A final sempre dá para estreitar mais a calçada e desapropria mais recuos de jardim indenizando com índices construtivos!
      Assim como você acha que uma ligação desviando o tráfego da Anita para a Plínio seria a melhor alternativa, e seria fácil...
      Eu acho que fazer uma via rápida e sem cruzamentos pela Eng. Alfredo Correa Daudt seria excelente! É só asfaltar bem para acelerar o tráfego, vai ligar direto em direção à Assis Brasil e a vai vitalizar o trecho final da Cristovão Colombo e a daí seria bom duplicar também a Marechal José Inácio da Silva. Daria para fazer outra obra de arte como viaduto ou trincheira lá no cruzamento da Plínio, ou tirar aquela praça japonesa de Shiga que tem lá.
      Daí fica uma bela via rápida dando um bom acesso para os bairros e para os shopping centers da região...

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    2. Não é atravessando a Carlos Gomes pela Furriel é vindo pela Furriel em alça de retorno desde a Alameda Raimundo Correa, ou seja passa pela trincheira dobra a direita na Alameda, que teria de ser revitalizada e volta pela Furriel para dobra a direita na Carlos Gomes em direção ao Aeroporto, daí não precisa a sinaleira com tempo demorado basta uma faixa de conversão direta e garanto que tem espaço para desapropriar alí e duplicar inclusive tem três figueiras alí que podem muito bem sair pois já foram transplantadas uma vez...

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    3. Existem cinco obras agendadas para a 3ª Perimetral, entre elas as obras da Anita e da Plínio. Porém, já há outro projeto para a Anita Garibaldi, que é a duplicação da rua. O projeto da trincheira e o da duplicação são incompatíveis, então não há sentido em fazer os dois.

      Sem contar que a rua Anita Garibaldi não foi feita para obras de grande porte, enquanto a Plínio, sim. Mas, se for feito um estudo de impacto que demonstre que a obra na Plínio é inadequada, óbvio que deverá ser pensada uma nova solução.

      Em síntese, o problema não é apenas a conversão à esquerda.

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    4. Não sei por que a duplicação seja incompatível coma a trincheira?
      Mas e daí então não sai a trincheira mas a duplicação então vai sair igual aumentando o fluxo sem a trincheira, e as árvores e jardins saem igual?
      E será que daí com a duplicação então a Anita não vai ficar adequada para uma obra de grande porte?

      Eu acho que se é para aumentar o tráfego então tem que aumentar em todos os lugares, pois as pessoas podem ir onde quiserem, seja na Anita ou na Plínio.

      O que fica parecendo é que é um movimento bairrista de privilégio de gente que é a favor de andar de carro mas não na frente da sua casa e sim na frente da casa do vizinho!!

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  6. A Votação foi: 85% queriam Trincheira e 15% queriam continuar com o cruzamento com Sinaleira

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